Olá queridos odontodepressivos!
Perceberam que mudamos o dia da Coluna, não é? Com a chegada do nosso querido João Guilherme, o mais novo integrante do time e dono da Coluna Vida de República, estarei a partir de agora às sextas com vocês. Combinado?!
(perdoem o atraso, tudo culpa da dona do blog mais enrolada do mundo hahaha)
E para estrear a nossa primeira sexta-feira, queria hoje falar de uma doença bastante interessante, severa e que todo cirurgião-dentista deve estar atento!
Durante milhões e milhões de anos, nosso sistema imunológico foi preparado pela evolução para atacar todos os agentes estranhos que possam penetrar em nosso organismo e para proteger o que é próprio de cada um de nós. Sabemos disso, não é mesmo?! Mas, ao longo desses anos, certas alterações nesse sistema acabaram por provocar mudanças nessa regulação de tal forma que, vez ou outra, as células imunológicas se confundem e passam a agredir os tecidos que na verdade elas deveriam proteger. Por conta disso, em 1932 o médico Burril BCrohne seus colaboradores descreveram pela primeira vez a doença de Crohn.
A Doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica do trato gastrointestinal. Ela afeta predominantemente a parte inferior do intestino delgado (íleo) e intestino grosso, mas pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, da boca até o ânus, assim como todas as camadas da parede intestinal: mucosa, submucosa, muscular e serosa.
Acontece assim: As células imunologicamente ativas acabam agredindo o aparelho digestivo, provocando lesões importantes, podendo criar fístulas(comunicações entre o intestino e a pele ou outra estrutura interna abdominal
Para vocês entenderem melhor: A doença de Crohn é o oposto do que acontece com o HIV. Paciente com HIV tem CD-4 baixo (linfócitos que coordenam a resposta imunológica). Na doença de Crohn, CD-4 está estimulado. Atualmente se imagina que, por predisposição genética, quando o organismo entra em contato com substâncias estranhas ou antígenos (que podem existir numa bactéria da flora normal do intestino humano), esse sistema imunológico seja muito estimulado.
O primeiro caso relatado de manifestações bucais da doença de Crohn foi descrito em 1969. Elas muitas vezes são concomitantes com as do intestino, afetando a mucosa bucal, os lábios, a gengiva entre outras regiões. Caracterizam-se inicialmente por úlceras focais com aspectos lineares na mucosa, semelhantes às aftas, mas com características clínicas mais persistentes, profundas e circundadas por margens hiperplásicas. Além disso, pacientes podem apresentar-se com inchaço difuso dos lábios.
Além das manifestações bucais e dos sinais e sintomas já descritos, os pacientes podem apresentar artrite (afetando cerca de 30% dos pacientes), febre, sintomas oculares, erupções cutâneas ou doenças fúngicas dolorosas e avermelhadas nas pernas.
Pesquisas mostram que a doença de Crohn relaciona-se com o uso de xenobióticos, tais como conservantes, corantes para alimentos, pesticidas, etc. Nas pessoas com predisposição genética, essas substâncias que no Brasil são adicionadas à comida em grande quantidade, podem estimular o sistema imunológico e provocar a manifestação da doença. Fala-se, ainda, que o uso de estrógeno estaria entre os fatores desencadeantes, mas isso ainda não foi cientificamente comprovado. Não se discute, porém, que a incidência de Crohn é mais alta nos fumantes do que nos não fumantes.
Atualmente o diagnóstico da doença é realizado através da colonoscopia com biópsia. Os achados de ulcerações e granulomas associados a sinais de inflamação da mucosa intestinal ajudam a estabelecer o diagnóstico, que é confirmado posteriormente com o resultado das biópsias.
O tratamento pode ser feito em etapas. Existe um sistema de mensuração da atividade da doença baseado no número de evacuações, dor abdominal, indisposição geral, ocorrência de fístulas e de manifestações patológicas. Esse sistema permite classificar a doença em leve, moderada ou grave. Se a doença é leve, o clínico apenas acompanha a evolução do paciente. Toda a terapêutica, porém, se volta para reprimir o processo inflamatório desregulado. Com o objetivo de debelá-lo, são primeiro introduzidas as drogas mais comuns: mesalasina, sulfassalazina e dois antibióticos, ciprofloxacina emetrinidazol. Nas fases agudas e para o tratamento das lesões bucais indica-se corticoide por via oral ou um corticoide novo, a budezonida, que não tem efeitos colaterais e sistêmicos indesejáveis. Essa substância está contida numa cápsula que, sob certas condições do trato digestivo, se abre e a droga age apenas no local onde foi liberada.
Se o paciente não responder a esse tratamento, existem drogas imunossupressoras, usadas para evitar a rejeição nos transplantes, como a azatioprina ou a mercaptopurina, além da terapia biológica que conta com a droga chamada anticorpo anti-TNF. Ela atua mais ou menos assim: Quando há um processo inflamatório na mucosa ou em qualquer outra parte do corpo, linfócitos, monócitos e macrófagos do trato digestivo produzem TNF e, como consequência, o processo inflamatório aumenta. Ao introduzir um anticorpo contra o TNF, haverá bloqueio e interrupção desse processo.
Pacientes graves podem ser submetidos à cirurgia, porque apresentam complicações como estenose (estreitamento do intestino) ou perfuração com peritonite (inflamação do peritônio – voltando às aulas de Anatomia geral - membrana serosa que reveste parte da cavidade abdominal assim como algumas vísceras).
Pesquisando pela Internet, acabei descobrindo que, há pouco tempo, o guitarrista do Pearl Jam, Mike McCready, assumiu ter a doença de Crohn há quase 15 anos.
“É uma doença estranha. Mesmo tratando dela direito você pode entrar em crise de uma hora para outra.”, diz o roqueiro.
O conhecimento e entendimento da doença são de suma importância para nós (futuros ou já cirurgiões-dentistas), haja vista que ela pode interferir na conduta do profissional e no estabelecimento do plano de tratamento. Além disso, é imprescindível a comunicação entre cirurgiões-dentistas e médicos gastroenterologistas a fim de proporcionar a promoção integral de saúde para estes pacientes.
Gostaram?
Aguardo vocês na próxima sexta!
Um grande abraço a todos!
Lays Azulay, estudante de Odontologia e Monitora de Anatomia Geral para todos os cursos da área da saúde, da Universidade Ceuma, São Luis – MA.
Contato: lala_azulay@hotmail.com
Fontes:
DOENÇA DE CROHN | RETOCOLITE ULCERATIVA http://www.mdsaude.com/2009/10/doenca-de-crohn-retocolite-ulcerativa.html#ixzz233R69RLa
DOENÇA DE CROHN | RETOCOLITE ULCERATIVA http://www.mdsaude.com/2009/10/doenca-de-crohn-retocolite-ulcerativa.html#ixzz233R69RLa
Relato de Caso: Manifestações clínicas intrabucais da doença de
Crohn – Relato de caso clínico
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