O caso Adalia Rose e o papel do Cirurgião-Dentista na doença.

Tá rolando na internet fotos e vídeos de uma menininha de cinco anos que apresenta uma síndrome, não muito conhecida, mas no mínimo curiosa. A princípio eu não concordei muito com a verdadeira quantidade de fotos dela publicadas em redes sociais, mas, após conhecer a sua LINDA história, simpatizei com a causa.  





Adalia possui uma Síndrome chamada Progeria ou Síndrome de Hutchinson-Gilford, uma doença genética extremamente rara que acelera o processo de envelhecimento em cerca de sete vezes em relação à taxa normal. Olhando os vídeos postados pela própria mãe, que nobremente raspou a cabeça para que a filha não se sentisse diferente, pude ver quão pura e feliz é a menina, que sonha em ter cabelo, adora se maquiar, dançar e se arrumar. Os vídeos são muito fofos e é impossível não se apaixonar pelo seu sorriso. Tão apaixonante ao ponto de você querer ajudar de alguma forma tanto ela, quanto a sua família.


Então me pus a pensar: Embora seja uma doença extremamente rara (afeta 1 entre 8 milhões de crianças), como eu, futura cirurgiã-dentista, devo agir para aliviar ou tratar os sintomas dessa patologia, ainda incurável?  


Como dito, a doença não tem cura e os pacientes acometidos por ela possuem um período de vida de mais ou menos quatorze anos. Ainda por isso, pouca coisa é encontrada na literatura no que se refere à Odontologia, mas, penso eu que, conhecendo os sintomas, é possível que haja uma conduta paliativa, mesmo que limitada, do cirurgião-dentista. Concordam comigo?


Os principais sinais da doença são a alopecia (redução total ou parcial dos pelos e cabelos), perda de gordura subcutânea, osteólise e osteoporose (que podem afetar os ossos maximandibulares), artrose e mobilidade articular diminuída (que podem afetar a articulação temporomandibular), baixa estatura ou nanismo, erupção tardia dos dentes, má oclusão, micrognatia, dilatação do baço, diabetes, colesterol elevado, risco aumentado de ataques cardíacos, arterosclerose, arritmia e infarto do miocárdio, entre outras, ou seja, uma área extensa para a atuação de vários profissionais da saúde, como o cirurgião-dentista.





Um cuidado muito importante quanto à osteólise e osteoporose no âmbito odontológico é que não haja fraturas por deficiência de massa óssea maxilomandibulares. Outro ponto importante que deve ser levado em conta é a formação ou agravamento de doenças periodontais. Com a perda ou diminuição do osso alveolar, ocorre uma maior quantidade de espaços dentários abertos, com consequente acúmulo de placa, muitas vezes de difícil limpeza e controle por parte do paciente, especialmente por se tratarem de crianças.


Em relação à articulação temporomandibular as disfunções podem ser inúmeras, haja vista que o paciente apresenta micrognatia ou hipoplasia mandibular que é o posicionamento da mandíbula muito posterior em relação à maxila. Devido a essa deficiência óssea, o lábio e os dentes também se apresentam para trás, trazendo consequências à criança como problemas mastigatórios, como a dificuldade de cortar os alimentos com os dentes anteriores, má oclusão, dor de cabeça e distúrbios do sono (ronco, apnéia, etc). 


Muito ainda precisa ser estudado para se ter certeza da conduta correta do cirurgião-dentista nessa doença. Até porque, com um verdadeiro leque de sintomas e doenças consequentes da síndrome, o cirurgião-dentista acaba ficando limitado quanto ao tratamento. 


Em abril de 2003 foi publicado um artigo que demonstra a ligação entre essa síndrome e uma mutação no gene LMNA para a proteína Lamina A do envoltório nuclear, justificando o surgimento da doença. Ao meu ver, essa descoberta traz para bem próximo a descoberta da cura da doença. O artigo está citado nas fontes logo abaixo e vale a pena a leitura.


Por enquanto, muitas coisas podem ser feitas por nós, como doações para os cuidados especiais a esses pacientes ou aos pesquisadores, assim como estudos para a boa conduta no consultório odontológico a pacientes com essa ou outras síndromes.
Para quem quer ajudar, acesse esse site !


No Brasil, encontrei três casos comprovados da doença, mas não encontrei nenhum site que fornecesse dados para o auxílio aos portadores.


Quanto a Adalia Rose, na sua página no Facebook, administrada pela mãe, possui o endereço da garotinha: https://www.facebook.com/AdaliaRose. Convido a todos a assistirem aos vídeos dessa princesinha, que nos ensina, acima de tudo, que não existe adversidade que pode apagar o sorriso por sermos amados. 

Adalia com a mãe e o irmãozinho


Espero que tenham gostado do texto, aguardo retorno!!!









Lays Azulay, estudante de Odontologia na UNIVERSIDADE CEUMA, São Luís – MA.
Contato: lala_azulay@hotmail.com



Fontes:
http://www.findtheother150.org/assets/files/Portuguese%20Progeria%20Fact%20Sheet.pdf
http://www.ufpe.br/biolmol/Genetica-Medicina/progeria1.htm
http://clement.ad.free.fr/fac/biocell/diapos.mort.cellulaire.et.viellissement.pdf
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.linkdicas.com.br/wp-content/uploads/2012/07/Ad%C3%A9lia-Rose-283x300.jpg&imgrefurl=http://www.linkdicas.com.br/adalia-rose/&h=300&w=283&sz=43&tbnid=TsJa1gf0BZ4XfM:&tbnh=90&tbnw=85&zoom=1&usg=__5-EYX9hKU3xbNwMlORfRhLOIrh0=&docid=tq4qojaSWg3xkM&hl=pt-BR&sa=X&ei=_JoJUI4lofDSAdquyMMD&ved=0CFwQ9QEwCA&dur=415
http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab2004/2ano/progeria/home.htm
http://www.bahiaortognatica.com.br/micrognatia/
www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&ved=0CFYQFjAB&url=http://www.bahiaortognatica.com.br/micrognatia/&ei=3aAJUIvkKfO20QGF6tzaAw&usg=AFQjCNFhastRz8ys6oU7ETF9y_4QfR365A&sig2=bcyELCOEnVZawdiF4diZAA
Artigo: De Sandre-Giovannoli A, Bernard R, Cau P, Navarro C, Amiel J, Boccaccio I, Lyonnet S, Stewart CL, Munnich A, Le Merrer M, Levy N.- Lamin A Truncation in Hutchinson-Gilford Progeria. Science 2003 Apr 17

2 comentários:

  • Anônimo says:
    21 de julho de 2012 às 08:46

    Muito bom o seu artigo publicado. Parabéns! Mas me tira uma duvida: Você acha que o descobrimento do gene afetado pode ser um passo para a cura. Mas nesses casos de mutação genética existe alguma forma laboratorial de se impedir essa mutação? Se existir teria como vc postar algo sobre isso, pois desconheço. Agradeço.
    Rennan
    Aluno de Odontologia da Universidade de Pernambuco

  • Anônimo says:
    30 de julho de 2012 às 18:45

    Olá Rennan!
    Adorei sua pergunta, porque essa foi uma das dúvidas que tive quando estava pesquisando o assunto para falar para vocês. No meu ver, com o descobrimento dessa mutação, não se é possível impedir essa mutação de forma laboratorial, mas não podemos negar que há um caminho cientifico definitivo
    para diagnosticar crianças com Progeria, permitindo que elas recebam cuidados
    apropriados o mais cedo possível, prologando e melhorando a sua qualidade de vida. Acredito sim que esse avanço traz para mais próximo a cura da doença, assim como os efeitos da velhice, haja vista que estamos falando da mesma proteína.
    Obrigada pelo elogio. Beijo grande.
    Lays Azulay

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